Meodeos, que trabalho que dá!

Por volta dos seus dois anos os desafios começaram a se multiplicar! Você já faz frases completas (o que é a coisa mais linda do mundo) e o seu vocabulário se quadruplica a cada semana. Você descreve as ações e as mudanças climáticas, a ordem do dia, vai dizendo: "Hoje está sol, está de dia. A lua foi dormir, o sol acordou. A mamãe foi trabalhar, agora falta o papai. A vovó foi pra São Paulo no carro laranja. O João quer brincar lá fora com o Fael. Hoje não tá chovendo" (...). Com você falando, sem dúvida, ficou muito mais fácil explicar as coisas pra você e muito muito fácil entendermos o que você quer, como você está. Nós te explicamos as coisas e você assimila tudo com uma rapidez surpreendente:

Outro dia, voltando da escola, tocou no rádio a propaganda de uma farmácia. Você disse o nome da farmácia e me perguntou o que era isso. Eu expliquei que era o lugar onde a mamãe comprava o seu leite, os remedinhos e as fraldas (aliás, você só as usa para dormir agora!). Você repetiu tudo como quem procura entender.  Chegamos em casa e contamos para o papai o que você tinha aprendido e você explicou a ele o que a gente fazia na farmácia. Vários dias depois passei na frente da farmácia e te mostrei: "Olha João! Aqui é a farmácia" e você completou "onde a mamãe compra leite, fralda, remedinho". Acho que toda mãe sempre morre de orgulho nesses momentos, não tem jeito. Vários dias depois passei reto na frente da farmácia e você disse "mamãe vai comprar leite?".

Falando frases, você passou a conjugar mais o verbo "não-querer". E com ele veio a descoberta de que nem sempre podemos fazer o que queremos... E isso dá um trabaaaalho. É resistência, persistência, cansaço (sua e nossa) e alguns cabelos brancos. O legal é que eu e seu pai conversamos muito e pensamos junto o que fazer, sempre. Quando alguma coisa não está dando certo a gente pára e pensa e muda. A rotina é intensa, não dá tempo de muita novidade, tem muita coisa pra fazer e o dia só tem vinte e quatro horas e a energia da mamãe dura menos que isso! Eu olho para as suas avós super cheias de energia e eu me sinto um zumbi!!! Se tem uma coisa que filho ensina pra gente é como persistir além da fome, do cansaço, do sono, do mau-humor. É como um rally. Todos os dias, pra sempre...risos... E nós, como pais, sobrevivemos a tudo isso e continuamos existindo, isso deve valer alguma coisa, não???

Aí, filho, não preciso nem dizer que o desempenho da mamãe fica comprometido, né? 

Tchau, mamãe, tchau, papai!

Hoje no carro:
- Um pouquinho com a vovó, um pouquinho com o Fluke, tá bom? Tchau, papai, tchau mamãe. 
- Filho, a vovó está em Santos com o Fluke, não dá...
- Um pouquinho com a vovó, um pouquinho com o Fluke, tá bom? Tchau, papai, tchau mamãe. 

Nambus - é assim que você diz.

Hoje foi super legal! Depois de vários dias de muito frio e chuva, fez um dia de sol em Curitiba e eu te peguei mais cedo na escola para passearmos de ônibus até a concessionária buscar o carro da revisão. Quando apareci na escola vi você procurando o carro e expliquei que nós iríamos passear de ônibus e vc dizia: "não! carro cinza!".
No caminho pro ponto (eram dois quarteirões grandes e você foi nos meus ombros - coisa que eu adoro fazer contigo!) você foi olhando os carros, dando tchau pras pessoas, apontando combes, fuscas, dando tchau pro ônibus. Aí acho que você foi se empolgando....
Você foi olhando pra tudo de olhos bem arregalados. O movimento no terminal, os ônibus chegando e partindo e esperou quietinho na plataforma de mão dada comigo. Quando entramos no ônibus e sentamos tirei esta foto, você estava super feliz!
Olhando pra tudo e repetindo "buscar o carro cinza!".
No caminho foi dando soninho e você cochilou no meu colo. Me lembrei de quando era pequena (não é de tão pequena a minha lembrança) de um dia que meu pai me  levou pra passear de metrô e me explicou as linhas, mostrou no mapa, e eu amei aquele negócio. É muito bom poder compartilhar momentos como esse hoje com você. <3

Eu sempre quis ter um filho de dois anos...

... mas hoje eu vejo que era pelas razões erradas! Eu achava a coisa mais linda aquelas bundinhas rebolantes de fraldas andando pra lá e pra cá. Achava lindas aquelas mini pessoinhas, filhos de conhecidos, com quem tinha pouco contato e vejo hoje que eu mal sabia das características dessa idade.

Hoje vejo a delícia maravilhosa que é ter um filho de dois anos e tenho muitíssimas mais razões para todos os dias amar mais esta fase.

São as frases que começam a ser construídas - ele passou a saber a hora de usar palavras como ainda, também e parece. A rapidez com que assimila as coisas e a memória que resgata uma situação que passou e então comprova seu aprendizado. É a hora que começamos a nos entender e nos comunicar com palavras, nós temos notícias das preferências e das coisas que acontecem no dia a dia dele e tudo isso é um universo infinito de possibilidades. O antigo desafio de aprender sobre os tipos de choro do início da vida é substituído pelas palavras que dizem o que ele quer agora. Se quer mamar ele diz. Se quer comer ele diz. E diz o que: fruta, bolacha, arroz-feijão, ovinho, pizza!

Os desafios de agora são outros, porque com as preferências vêm as vontades e as faltas de vontade, o não quero!, as bravezas, e também certos questionamentos em relação às regras e à nossa autoridade (mas já?!). E agora o desafio é o de lidar com esses nãos, tapas e é necessário ter uma paciência extraordinária para repetir, quantas vezes for necessário, os motivos pelos quais ele não pode bater, cuspir, se jogar, porque ele precisa dormir agora, que já não está mais na hora de brincar...

Hoje ele nos convida a colocar a mão na massa, diariamente. Já foi a época em que nós o carregávamos para os restaurantes e programas que nós queríamos - porque ele simplesmente não tinha como opinar sobre aquilo e acabava dormindo no bebê conforto, encerrado em seu pequeno mundo. Hoje somos nós que nos dobramos à sua pequena estatura e experimentamos os seus programas como morrer de dar risada com a massinha que sai da cabeça do boneco repetidas vezes, os desenho e a moral da história, o profundo interesse e apaixonamento pela vida, o aprendizado sobre os perigos, suas pequenas dores e insatisfações e seus inúmeros encantamentos pelo mundo, pelas coisas da natureza e pela magia das construções dos homens também. Esse convite é irrecusável pois colore nosso dia a dia de magia e giz de cera e nos ensina a olhar muito além do nosso umbigo, pra frente, pra cima, pra baixo, de baixo pra cima e muito menos de cima pra baixo, e me faz me lembrar de nunca esquecer de que a criança, de alguma forma, sempre tem razão.

Como todos os dias peguei você na escolinha e atravessamos a rua de mãos dadas. Você atravessou preocupado porque aprendeu que o carro na rua é perigo. Coloquei você na cadeirinha e você me abraçou agarrado nos meus cabelos, como faz desde pequenininho, e eu disse: "você gosta do cabelo da mamãe, né, filho?". E então você me surpreendeu: "Que lindo cabelo, mamãe!".

Mãe e pai cansados às vezes repetem as brincadeiras que uma vez funcionaram. Quando deixa de funcionar troca. Às vezes a mãe inventa, às vezes o pai, mas quando as avós vêm as brincadeiras se multiplicam! Elas dizem que não tem gás pra correr atrás de você, de fato você está numa fase que não para quieto! Mas a criatividade... O vocabulário multiplica! Desde pequeno nós contamos tudo o que fazemos pra vc ir aprendendo os números. Cada degrau da escada, o número de gotinhas da homeopatia, os carros que passam na rua... Mas um dia estava eu contando as bolinhas da homeopatia pra te dar, que são 5 e vc adora, e vc comeu e disse "Mais! Catôze!". Catorze virou o número! Quando vc quer mais bolacha é catorze que vc fala. Banana, catorze. Pão, catorze. É muito engraçado! Vc já é uma vidinha independente. Monta as frases, quando não sabe como ligar uma palavra na outra enrola qualquer coisa! E a entonação é muito engraçada, fala tudo com ritmo e pausas. Sou sua fã. Vc é muito amoroso com as avós, conosco, com as tias da escola. Nos chama, nos pega pelas mãos para nos levar nos lugares, mostrar, brincar, pedir algo. Você adora frutas! Manga, morango, caqui, abacaxi, banana, mexerica. Sabe o nome, pede e come super bem! Começamos a contar as histórias pra você dormir e você já sabe algumas frases de acordo com as páginas. Sabe cantar um monte de músicas e tem muito ritmo, é muito ligado em música. Se passa um carro na rua com o som alto vc já balança a cabeça, o tronco, começa a dançar. Eu adoro o jeito que vc dança! Este final de semana a vovó Celia inventou uma batucada e todos nós ficamos batucando juntos por um tempo, foi super legal! Está ligado nos filmes também, mas só quer saber de Mickey e Carros. Mamãe fica doida então às vezes eu tento colocar um ou outro diferente. Vc reclama... Mas às vezes rola Nemo, Monstros S.A., Enrolados, A Dama e o Vagabundo... eu vou tentando variar enquanto eu posso, mas a maioria das vezes é Carros e Mickey mesmo. O McQueen é seu herói e você só fala nele o dia todo. Vovó Celia deu um livro, vovó Celina deu o McQueen grande (que vc chama de gordo). Na hora que viu os dois presentes juntos disse "ôto" e quando viu as duas avós juntas disse "ôta!". Foi super divertido. Tem coisas que eu te ensino que não acredito que vc se lembra meses depois. Fico muito admirada! Vc se liga tanto em números que já conta até vinte já faz alguns meses! Ter uma criança em casa é usar as baterias até a reserva todos os dias, recarregar pela metade dormindo, ao te encontrar e manhã recarregar até o fim e depois descarregar tudo de novo até a hora de dormir de novo. Se eu trocaria por qualquer outro sonho? Conhecer o mundo? Ter uma casa maior? Dormir até meio dia? Passar o fim de semana sem fazer nada? EU PASSO! Amo ser mãe, ser sua mãe, você é esse serzinho maravilhoso que veio me ensinar sobre o que realmente importa na vida: os momentos. Hoje é dia das mães e eu me sinto muito feliz por tudo isso.

Maratona 72 horas

Esse final de semana foi uma maratona. Começou com febre sexta às 16hs e o final de semana terminou agora um pouco mais feliz, à meia noite e meia, quando você foi dormir cantando e rindo. Me lembrei de um dia que entrei no banheiro de uma churrascaria, você ainda não havia nascido e eu não me lembro se eu já estava grávida, vi uma mulher com um bebê no colo - ele devia ter mais ou menos a sua idade - ela o acalentava nos braços e ele cantava para dormir. Eu me lembro de ter achado aquilo incrível e, sem dúvida, inesquecível. Agora há pouco com você em meus braços, cantamos juntos as músicas do cd que você ouve desde pequeno para dormir e eu vivi o meu momento especial. Filho, nenhuma maratona como foi essa do final de semana prepara uma mãe para que outras vezes que vierem sejam melhores. Penso que sempre será difícil ver você mal, como o foi dessa vez. Mas rever você bem, cantando, correndo, rindo me faz retomar a respiração que eu havia prendido por todos esses dias. E sorrir e cantar e me lembrar de nunca me esquecer de viver com você todos os dias que pudermos viver juntos com a mesma alegria.

Pintão

Você repete as palavras com mais facilidade agora e nós nos surpreendemos a cada dia. Coloquei você no berço e disse que já voltava com a sua mamadeira. Você ficou me olhando e eu perguntei "tá bom?" e você continuou me olhando. Então eu disse "fala 'tá bom'" e você disse "tá bom"...risos... Pergunto se a comida está quente e você coloca o dedinho e diz "quente". Já diz "teteca" e entende provavelmente muito mais do que a gente imagina! Andou montando umas frases também como "qué mamá, qué bola, qué brum" e "dá a mão". Essa você disse um dia no restaurante e mais uma vez fiquei boquiaberta a hora em que saiu: eu peguei a sua mão e você estendeu a outra pro seu pai dizendo "dá a mão". Outro dia presenciei você calmamente comendo sua primeira caca de nariz! Tirou belo e formoso a meleca e sem pudor, que ainda não aprendeu, deu uma lambidona no dedo! Eu confesso que fiquei um tempo te olhando e pensando que tem coisas que eu realmente não esperava ver você fazer tão cedo! Tudo o que fazemos com você agora você faz com o "brum" e com a bola. Eles também comem papá e fazem inalação! E como você está curtindo tudo!!! Passear com você está mais divertido e mais gostoso. É uma delícia ver você descobrindo mais e mais coisas e de repente eu me emociono. Foi assim hoje na Oficina de Música. Te levamos para ver a Camerata Antiqua com uma montagem infantil com músicas do Chico Buarque, Edu Lobo, Vinícius. A montagem foi super legal porque eles explicavam os instrumentos e os naipes do coral e você assistiu a tudo atento. Ao ouvir tocar músicas da minha infância e eu ali com você não pude evitar as lágrimas... Quando você foi aprendendo as partes do corpo nós dizíamos a parte e você apontava: cabeça, cabelo, mãos, pés, barrigão. Quando eu perguntava do pintinho você fazia o gesto da música "cabe aqui na minha mão" e nós morríamos de rir. Depois, a brincadeira virou de você mostrar o seu barrigão e, em seguida, dizer "mamãe!", "papai!" para que cada um mostrasse o seu a seu tempo. Outro dia tirando a sua roupa para o banho eu perguntei "cadê o pintão do João?" e você colocou a mão ali(nada de pintinho mais, para evitar de vez a confusão: pintão!). Mas em seguida você disse "mamãe!"..."mamãe!".